A Fundação dos Média para a África Ocidental (MFWA) observou com grande preocupação o cerco à liberdade de imprensa na Guiné-Bissau, sendo o mais recente o ataque à casa de Rui Landim, um popular comentador de rádio e analista político, no dia 8 de fevereiro de 2022. Instamos as autoridades a tomarem medidas para proteger jornalistas e ativistas críticos no país e garantir que todas as liberdades fundamentais, especialmente a liberdade de expressão, sejam respeitadas.
No dia 8 de fevereiro de 2022, a casa de Rui Landim foi atacada por homens armados, um dia após a Rádio Capital, a estação onde é membro regular do painel, ter sido atacada por homens armados. Landim encontrava-se em casa com sua família quando os agressores, armados com AK-47, abriram fogo contra o portão de sua residência, depois de tentarem em vão derrubar uma seção da cerca. Os agressores lançaram gás lacrimogéneo no quintal. Um dos gases lacrimogéneos terá caído no quarto da sua neta de 15 anos, sufocando-a.
O gás lacrimogéneo aparentemente visava obrigar Landim de sair. Felizmente, alguns vizinhos ganharam coragem e saíram gritando e instando a família sitiada a permanecer dentro de casa, o que fizeram. Os bandidos armados, que pareciam ser membros da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), acabaram por desistir e fugiram em seus veículos.
Vizinhos relataram à imprensa local que Landim e sua família ficaram visivelmente abalados e traumatizados pelo ataque, que durou cerca de dez minutos.
Para Rui Landim, de 66 anos, cuja vida já foi ameaçada várias vezes, é óbvio que o ataque está relacionado com a análise da situação política na Guiné-Bissau que ele fez como comentador durante a edição de segunda-feira, 7 de fevereiro, do programa de rádio “Pontos nos Ís”, na Rádio Capital FM, de propriedade privada. A estação de rádio foi atacada no mesmo dia, 7 de fevereiro.
A Rádio Capital foi reduzida a destroços por homens armados uniformizados no dia 7 de fevereiro de 2022, após um programa matinal diário onde as pessoas tiveram a oportunidade de questionar as razões subjacentes para a tentativa de golpe fracassada de 1 de fevereiro de 2022.
Rui Landim expressou sua ansiedade e medos com relação a toda essa situação em uma videochamada com a MFWA.
“Três horas antes do ataque, recebi informações sobre uma lista de pessoas que serão sequestradas, e meu nome está na lista negra. Temo pela segurança da minha família e responsabilizo o governo por qualquer coisa que aconteça. Apelo à opinião nacional e internacional sobre este assunto”, disse ele.
A filha de Landim, Ludimila Lurdes Gomes Danfa Tavares, que falou com a MFWA por telefone, disse que ninguém ficou ferido no ataque, além do trauma de estar perto da morte. Ela acrescentou que seu pai está bem. No entanto, a família evacuou a casa por razões de segurança, acrescentando: “Já não nos sentimos seguros neste país.” Ela disse que embora a família tenha denunciado o ataque à polícia, “eles não estão à espera de muito”.
Entretanto, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário Silva, diz que ele próprio foi ameaçado perto da sua residência por elementos desconhecidos no dia 9 de fevereiro. Acrescentou que a casa do seu antecessor, Luís Vaz Martins, também uma voz crítica regular na Rádio Capital, foi igualmente atacada por desconhecidos. Mário Silva observou que o ministro do Interior, Botche Candé, não cumpriu o seu dever de garantir a segurança pública e, por isso, pediu a sua “demissão imediata”.
A MFWA condena veementemente o brutal ataque à casa de Rui Landim como um ataque aos direitos dos cidadãos à liberdade de expressão e opinião na Guiné-Bissau. Instamos as autoridades a porem fim à repressão total e ao silenciamento da imprensa e das vozes dissidentes. A MFWA insta o governo a responsabilizar os perpetradores das recentes violações da liberdade de expressão na Guiné-Bissau. Nenhuma democracia viável pode ser construída num ambiente de intimidação e insegurança, especialmente quando tal ambiente suprime a liberdade de expressão. Por conseguinte, exortamos o governo da Guiné-Bissau a controlar os bandidos que estão a aterrorizar a imprensa e as vozes da sociedade civil.